sexta-feira, 3 de abril de 2009

Escondido

É impressionante a nossa capacidade de fugirmos e nos escondermos daquilo que destrói a nossa carne (Rm 7:18-23)! E o mais nojento é que fazemos isso usando deliberadamente a presença ou a própria pessoa do Senhor.
Estava recordando aquela canção que gostávamos de cantar: “Esconda-me na nuvem de glória”. E fiquei pensando que muitas vezes buscamos esse esconderijo da maneira equívoca. Tiago afirmou que não recebíamos resposta às nossas orações porque as fazíamos visando o nosso próprio deleite (Tg 4.3). E será que muitas das vezes em que invocamos o Senhor, ou numa linguagem mais usual nesses tempos, O convidamos a estar conosco, não queremos apenas encobrir aquilo que nós somos, “curtir” o prazer inefável que é estar em Sua presença enquanto justificamos a cauterização das nossas consciências arrojando-nos de Sua presença para exaltar a nossa justiça-própria?!
Acho que a segunda parte da música, que diz: “onde o orgulho não me ache, o pecado não me encontre, os aplausos não me afetem, as riquezas não me iludam, os prazeres não me façam tirar meus olhos de Ti, Senhor”, fica esquecida em algum lugar, porque a presença de Deus não é lugar de você se sentir bem com aquilo que você é, senão de se arrepender e se converter e ser transformado naquilo que Ele é! A Sua presença é o lugar onde aprendemos a morrer pra nós mesmos e pro mundo.... onde a vida dEle preenche o nosso vazio. O problema é que muitas vezes ficamos felizes por mais um culto com unção, onde O sentimos, mas que não produziu nenhum arrependimento, nenhuma transformação em nós, onde o nosso amor por Ele e pelo nosso próximo não cresceu.
Parece brincadeira, pois, se Deus é Amor, e você fica repetindo por horas e horas, “Senhor, eu quero mais de Ti”, e você não ama mais ao seu irmão depois disso (pois se alguém disser que ama a Deus e não ama o seu irmão é mentiroso) ou Deus é surdo, ou o seu pecado impede suas orações de estarem sendo ouvidas por Ele, ou.... você não está sendo sincero, você não está disposto a ser transformado por Ele, tudo o que você quer é sentir, sentir, sentir! (1 Jo 4:7,8,11,12,20). Resumindo, o que fazemos repetidas vezes é ter experiências “espirituais”(?!) que mexem com nossas emoções naquele momento e até amaciam nosso ego, pode crer! Aiaiai. Mas chega, né, irmãos?! Isso é falta de vergonha na cara, é falta de noção, falta de temor, de amor, nem se fala.
Sabe, parece que muitas coisas estão invertidas. Queremos Sua glória, hum. Mas será que queremos mesmo? Se queremos por que não estamos obstinados a buscá-la? Se a queremos por que ficamos felizes em apenas sentir Sua unção? (Ainda falarei mais sobre isso). Pra começar, o que é a glória de Deus, mesmo hein?! Nas Escrituras, Sua glória, ou kabod, palavra correspondente em hebraico que literalmente significa peso, inevitavelmente nos põe prostrados diante dEle, isso quer dizer rendidos, nos impede de fazer qualquer movimentação carnal, inclusive pseudo-espirituais, exige nossa santificação, pois na antiga aliança, aquele que se colocasse diante da glória de Deus em pecado morreria.
E você acha que Deus mudou ou relativizou Seus padrões por causa de Jesus? Vai perguntar a Ananias e Safira (At 5.1-11)! Isso é coisa muito séria. É caso de vida ou morte. Meu amigo, Jesus veio ao mundo cheio da glória de Deus e nós o matamos, e sabe o que nós iríamos ganhar por isso? A morte (Jo 1.11,14; Rm 6.23). E se você não se converter e aceitar a graça de Deus sobre a Sua vida e continuar ostentando o seu orgulho demoníaco e a sua soberba estúpida, sem entender o quanto você é miserável e necessitado dEle, e se você continuar mandando Jesus todo dia pra cruz, em vez de tomar a sua própria cruz, sabe o que você vai ganhar (Lc 9.23; Hb 6.4-6)?...
E a nossa busca frenética pelo sentimento (que tem se tornado praticamente um ente com vida própria) que chamamos de unção. Ui! A unção na Bíblia (é verdade, cristãos baseiam sua fé nas Escrituras Sagradas) significa consagração, separação, santificação e capacitação. A unção em alguns momentos também se refere ao cheiro, pois o óleo da unção em seu uso cotidiano era utilizado como objeto de perfumaria. A unção sobre nós, Igreja, vem para nos santificar, nos separar, nos capacitar para exercemos nosso serviço para Deus e finalmente para nos fazer ter o “bom perfume de Cristo” (2Co 2.15). Ou seja, a unção não é pra você ficar se sentindo bem, querido, nem pro seu culto ser mais agradável, é pra você ser o que o Senhor te chamou pra ser diante dos homens, anjos e principados, para você santificá-lo entre as nações da terra, para você ser testemunha dEle neste mundo tenebroso, “a Unção que dEle recebemos permanece em nós” (1Jo 2.27), pra que Cristo seja visto em nós, e essa é a esperança da glória, ou seja a glória de Deus há de se manifestar ao mundo novamente, mas agora em nós, que somos Seu Corpo (1Co 12.27; Cl 1.27) ! Agora, amados, sendo crentes bem sinceros, é isso mesmo o que tem acontecido conosco?
Chega desse discurso tão alegoricamente espiritualizado mas que não produz vida em ninguém. As palavras de Jesus eram duras e quase insuportáveis, mas eram palavras de vida... e sabe porquê (Jo 6.60,68)? Porque Jesus vivia o que Ele falava, “Ele não falava como os escribas, mas como que tem autoridade” (Mt 7.29). E nós... falamos muito... mas temos vida pra compartilhar? O que vivemos de fato? O que estamos fazendo? Quais são nossas obras? Jesus certa vez falou algo assim: “se vocês não acreditam nas minhas palavras, vejam as minhas obras, pois são as mesmas obras do Pai.” (Jo 14.10,11 - tradução livre). Será que podemos colocar nossas pregações a prova? Será que praticamos as mesmas obras de Jesus? Será que pelos nossos frutos somos reconhecidos como obreiros aprovados, que não tem do que se envergonhar (Mt 7.16; 2 Tm 2.15)?
Irmãos, em nome de Jesus, que nós possamos ser honestos conosco mesmos e sinceros com o Senhor. Precisamos nos expor ao tratar de Deus, precisamos aprender com Ele que é “manso e humilde” (Mt 11.29), precisamos reconhecer nossas incapacidades, confessarmos nossos pecados, nos humilharmos diante de dEle, precisamos nos reconciliar com aqueles a quem ferimos, precisamos lembrar nosso papel como sal e luz do mundo, precisamos corrigir os nossos caminhos, precisamos depender somente dEle, não fingindo que nós já somos o que não somos, nem tolerando o mal que reside em nós, mas gemendo e buscando ardentemente a Verdade que nos liberta (Pv 28.13; 1Jo 1.9; 1Pe 5.6; Mt 5.13,14, 23, 24; Jo 8.32).

Que a unção venha, aquela que despedaça todo jugo, e que nos confronta com a Verdade

AJUDA-NOS, SENHOR!
Amém