quinta-feira, 28 de abril de 2011

Ziguezague

Onde está o erro, Deus?
Eu posso ver que há
Pensar no perfeito e entendê-Lo
É mais do que eu posso esperar

Mas se entender não é bem o ponto
E ao mesmo tempo um caminho é
Como saber se estou delirando
Ou se o que vejo é por meio da fé?

Como é que se explica a certeza
Daquilo que o olho não viu
E ao que se compara a grandeza
Do que se não pode medir?

Eu tenho os meus pensamentos
Mas não me fio só na razão
Em partes conheço o percurso
Em outras vou com o coração

quinta-feira, 14 de abril de 2011

... e humildade

Há algum tempo atrás, escrevi um texto sobre a necessidade de termos coragem para assumir nossas responsabilidades e assim irmos ao encontro da verdade. Nesses últimos dias tenho também confrontado a necessidade de termos coragem para refletir acerca das questões concernentes a nossa fé e espiritualidade. 

E eu reafirmo esses tópicos. Sim, é preciso ter coragem para mexer com idéias, pressupostos e pré-conceitos que estão, muitas vezes, alicerçados em nós desde muito cedo em nossa caminhada com Deus. É preciso ter mais coragem ainda para questionar tradições e assumpções tão entranhadas no seio de nossa teologia cristã/protestante/evangélica que, na maior parte do tempo, não nos damos ao menor trabalho de pensar a respeito.

Mas a verdade é, que se queremos alcançar a Verdade, não basta ter coragem. É preciso também ter humildade. Humildade para reconhecer que nós não somos e nem seremos capazes de compreender todas as coisas. Aliás, muitas vezes não somos capazes sequer de conceber algumas delas. É preciso ter humildade para reconhecer que nosso intelecto é limitado, bem como nossa própria capacidade de analisar e discernir (julgar as coisas). 

Precisamos também ter sempre em mente que a intenção de Deus não é nos elevar a perfeição por meio da  completa elucidação de todos os segredos e mistérios da vida e do universo, mas nos conduzir a um relacionamento pleno e permanente consigo mesmo. Afinal: "Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover montanhas, se não tiver amor, nada serei." (1Co 13.2).

Honestamente, nós sabemos que não vale a pena continuar buscando conhecimento quando, ao invés de gerar em nós mais compaixão, mais misericórdia e mais amor, ele apenas nos torna arrogantes, nos confunde, nos desanima e nos destrói. Eu não estou dizendo que a verdade não nos confronta ou causa conflitos porque estaria sendo incoerente com o próprio ensino da Palavra. Mas eu acredito que, se nós tivermos um coração sincero e humilde, eu e você seremos capazes de perceber quando nossas motivações estiverem fora do lugar.

"Visto que, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por meio da sabedoria humana, agradou a Deus salvar aqueles que crêem por meio da loucura da pregação. Os judeus pedem sinais milagrosos, e os gregos procuram sabedoria; nós, porém, pregamos a Cristo crucificado, o qual, de fato, é escândalo para os judeus e loucura para os gentios, mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus." (1Co 1.21-24)

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Maravilhosa Graça!

"Amazing Grace, how sweet the sound
That saved a wretch like me
I once was lost, but now am found
Was blind, but now I see"

Semana passada assisti ao filme 'Amazing Grace' (2006), em português, 'Jornada pela Liberdade'. Em linhas gerais, trata-se de uma história sobre a campanha contra a escravidão liderada por William Wilberforce, um famoso abolicionista inglês, responsável por levar ao Parlamento Britânico a legislação antiescravagista.

A temática por si só é interessantíssima, mas o que me chamou mais atenção no filme foi forma como ele aborda o entendimento que o protagonista vai formulando acerca da vontade de Deus para sua vida. E mais do que tudo, como esse entendimento movimenta a sua vida não só em prol de uma esperança inabalável, mas também de uma luta concreta para mudar a forma (injusta) como as coisas estão postas.

No princípio do filme, descobrimos um jovem Wilberforce vivenciando a alegria de sua salvação. Em uma das minhas cenas prediletas, ele se senta em um jardim, contemplando os céus, e fala para Deus:  "Meu Deus, sei que isto é completamente ridículo, mas sinto que tenho de me encontrar contigo em segredo." Porém esse momento é também para ele um momento de conflito, pois ele acredita que deve escolher entre fazer o "trabalho" de Deus e o trabalho de ser um ativista político.

É quando, com a ajuda de seus amigos abolicionistas e do próprio John Newton (compositor da famosa canção que dá nome ao filme), seu amigo e antigo tutor, ele percebe que lutar contra a escravidão era seu dever como cristão por causa da posição única em que Deus o havia colocado.

Wilberforce sempre demonstrara um coração sensível quanto a questão da escravidão, mesmo quando esta ainda lhe era uma realidade distante. Ele também possuía a clara compreensão de que diante de Deus todos os homens eram iguais e que a Ele todos pertenciam. De forma que, uma vez confrontado pelos fatos, sua resposta não foi outra senão entregar-se com total paixão a missão Deus havia lhe confiado, em suas próprias palavras: "Deus apresentou-me dois grandes objetivos: A eliminação do comércio de escravos e a reforma da sociedade".

Em uma das mais tocantes cenas do filme, o personagem fala: "África, os teus sofrimentos têm sido um tema que prendeu e ocupou o meu coração. Os teus sofrimentos nenhuma língua consegue exprimir nem partilhar." Me fascina o fato de que ele não está apenas defendendo uma causa justa, ele está empenhando seu coração  em amar e compartilhar a dor dos que doem, ele se dispõe a chorar com os que choram e dar voz aqueles que não a tem.

Isso também me faz pensar em Isaías 58.6-11: "Porventura não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos, e despedaces todo o jugo? Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres abandonados; e, quando vires o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne? Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do SENHOR será a tua retaguarda. Então clamarás, e o SENHOR te responderá; gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui. Se tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo, e o falar iniquamente; E se abrires a tua alma ao faminto, e fartares a alma aflita; então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia. E o SENHOR te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares áridos, e fortificará os teus ossos; e serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca faltam. " E me levar a questionar... não seria  exatamente esse o propósito do evangelho? 


sábado, 9 de abril de 2011

Pensai!

"Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra" Colossenses 3:2

Pensar é bom, eu vos digo amigos, pensem! Mas o pensar por si só não produz nada se as nossas intenções forem apenas abarrotar mais e mais saberes fúteis ou produzir discussões que de nada servem senão para insuflar nossas próprias vaidades. Um pensamento só pode me libertar se ele me coloca em contato com a verdade e a verdade sempre aponta pra Cristo, que é Ele mesmo a Verdade encarnada da parte de Deus pra nós.

É interessantíssimo o modo como a Bíblia aborda essa questão... "E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus." (Rm 12.2). É através de uma mentalidade renovada - permita-me dizer, eu não consigo imaginar uma mente passiva como uma mente renovada - é através desse entendimento renovado que podemos experimentar (vivenciar) a vontade de Deus. Não é através de uma emoção renovada, não é através de uma experiência sobrenatural renovada... é através de uma mente renovada que podemos conhecer e consequentemente viver a vontade de Deus.

Não, eu não estou dizendo que o intelecto é mais importante que nossas emoções, sentimentos, sensações ou o que quer que seja, mas que cada uma de nossas faculdades psíquicas tem sua função no processo de apreensão da revelação do evangelho, revelação essa que é plena e atua sobre TODA a nossa alma e espírito. Com efeito, estou apenas citando o que a Bíblia diz. 

Lembremos-nos que a Palavra também nos ensina: "Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças." (Mc 12.30). Ora, como poderemos amar a Deus com todo o nosso entendimento se nem sequer o utilizamos completamente (por preguiça talvez?) ou se nos dispomos a pensar sobre toda sorte de coisas, mas quando se trata das coisas que nós comodamente classificamos como "espirituais" simplesmente nos recusamos a tomar tempo para refletir sobre elas. Eu vos pergunto... como podemos amar a Deus com nosso entendimento? Nos recusando a pensar sobre tudo o que diz respeito a Ele, como se a Sua vontade  fosse nos fazer estúpidos ignorantes?

Me parece esse modo de ver as coisas como uma inconsistência com o que a própria Bíblia ensina. Mas eu posso imaginar as origens desse posicionamento para além de nossa própria acomodação pessoal. Historicamente a igreja protestante vem se dividindo entre os que pensam que por pensar estão alcançando a Deus e os que pensam que por não pensar estão O agradando.

Eu fico pensando - sim, se isso é um crime condenem-me agora ou calem-se para sempre.. rs - que o mal todo aí está sim na nossa arrogância. A soberba fundamenta a mentalidade do mundo... "Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo." (1 Jo 2:16). Por isso, compreendo eu, o texto em Romanos 12 nos apresenta esse pensamento do mundo como algo oposto ao entendimento que nos permite ter contato com a vontade de Deus.

É essa mentalidade mundana, impregnada de orgulho e vaidade, que ao se debruçar sobre as Escrituras ou ao refletir sobre as questões concernentes a Deus produz os mais absurdos desvios e manipulações da verdade. É, pois, contra nossa natureza pecaminosa que devemos lutar e não contra a preciosa capacidade que Deus nos concedeu de aplicar todo o nosso entendimento na prazerosa tarefa de amá-Lo e servi-Lo.

"Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai." Filipenses 4:8